Alice Vinagre 

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Alice Vinagre (João Pessoa, 1950, reside entre João Pessoa e Recife) pertence à chamada Geração 80, movimento emblemático de retomada da pintura no Brasil, composto por artistas que frequentavam o núcleo de cursos da Escola de Belas-Artes da Universidade Federal do Rio Janeiro. Naquele momento, a pintura brasileira ressurgia com potência por meio de trabalhos que desafiavam os limites do plano, ainda que fundamentados na pictoría, após uma década em que o conceitualismo imperou. As abordagens temáticas frequentemente tratavam de questões autobiográficas e das condições de ser e existir no mundo contemporâneo. O trabalho de Alice Vinagre contextualiza-se nestes territórios, sendo autora de obras que mesclam o figurativo e o abstrato, sempre com referências às suas vivências, crenças e éticas pessoais.

Um ponto de virada em sua produção aconteceu em 1983, quando leu o livro Não Apresse o Rio, Ele Corre Sozinho, de Barry Stevens. A obra, com perspectiva metafísica, aborda a prática da Gestalt e a capacidade de presentificar o que acontece interna e externamente ao nosso redor. A partir dessa leitura, a artista começou a incorporar elementos mais autobiográficos em sua produção e despertou o interesse por representar memórias inconscientes. No plano visual, isso se traduziu em visualidades mais primitivas, selvagens, com a presença marcante do grafite e da palavra em contextos difusos. A impossibilidade de uma totalidade narrativa em sua pesquisa poética entrecruza a busca por uma ética de vida, onde práticas religiosas e filosóficas de diversas culturas, como o xamanismo, a psicologia junguiana e o budismo, se mesclam em uma constante busca por respostas sobre a existência.

Há em sua obra uma intenção de síntese e unificação de elementos contrastantes, seja através do choque entre texto e imagem, seja pela contraposição entre potência expressiva e enquadramento geométrico das formas. Suas composições são sintéticas no sentido de apresentarem, de forma recorrente, elementos flutuantes: colares, círculos, cordões, perolas, além de símbolos e signos arquetípicos e ancestrais, como cobras, nós, corações, cruzes, labirintos e espirais. Esses elementos surgem de fundos cósmicos que, mesmo com um cromatismo dramático, de cores sóbrias, realizados com tinta acrílica diluída, resultam em uma expressiva leveza visual.

Na série Anotações sobre Pintura, desenvolvida desde os anos 2000, Alice Vinagre demonstra sua vocação para a criação de situações artísticas baseadas na tela e na tinta, consolidando a pintura como sua principal prática. O ato de pintar, repintar ou sobrepor camadas, assim como reelaborar trabalhos anteriores, eleva o ofício da pintura a uma prática meditativa e espiritual. A obra de Alice Vinagre, portanto, reflete um constante diálogo entre gesto, memória e espiritualidade.

 

Texto: Walter Arcela

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