Amanda Melo da Mota 

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Cosmografias Atemporais

O trabalho de Amanda Melo da Mota pesquisa as relações com o tempo e o espaço, paisagens e corpos, as várias formas e meios de encontros com grupos que alimentam suas investigações e estabelecem dinâmicas capazes de integrarem práticas terapêuticas possíveis de se desdobrarem em visualidades e vivências poéticas. A artista também se preocupa em retornar e refletir criticamente sobre a relação humana com a natureza nos dias de hoje, trazendo possibilidades de visões em movimentos gerados por uma espécie de sintropia (como na agricultura sintrópica do Ernest Götsch), alternativa ao estado entrópico do mundo.

Sua produção mais recente insere a experiência do corpo em inspeções reais, sonhadas e fabuladas, criando imagens que dialogam com as novas práticas em tempos de confinamento, observando e sentindo o corpo que vibra a partir da ausência dos deslocamentos no contexto atual. Estar no entre, no corpo- paisagem, no mergulho sobre essas temporalidades e por vivencias solitárias ou coletivas dessas ações, nas fronteiras anacrônicas de um passado científico e mítico, propondo assim cosmografias atemporais.

Trazer para a contemporaneidade as relações de um pensamento mítico, estreitamente alinhado com pensamentos filosóficos do agora, como um instrumento que permite acessar narrativas que não devem deixar de existir. É pela vivência, escuta e palavras que Amanda condensa a experiência e desdobra em suas obras pelas mãos e olhos que vão repassando os saberes transgeracionais.

Nas palavras da artista, suas obras cavoucam sobre: pedras que falam, corpo mulher que pode ser qualquer corpo, corpo mulher matriz que gera, faz crescer, se espalha. Também contém uma alquimia que reza por mudanças desse cultivo do mono, daquilo que não tolera o diverso, pois em si não tolera a vida como ela de fato é. Revertendo o pensamento patriarcal histérico, as obras produzidas pela artista revelam estados possíveis de resposta a séculos de dominação sobre o corpo da mulher e sobre os processos de colonização. Reconciliação com a natureza, respeito a suas forças ancestrais e aos seus elementos. As forças que geram e nos conectam com cosmogonia e com leituras de linguagens simbólicas das diversas naturezas.

A auscultação e a transmissão surgem, assim, como forças dotadas de uma espiritualidade, do universo feminino e resistente nas obras de Amanda, de uma força sensível que exclama e proclama respeito ao passado e a reconstrução, criação ação tão necessária de ser resgatada no contemporâneo, que se conserva pela arte para além do ciclo de vida e morte, capaz de por si própria reevocar conhecimentos e acontecimentos passados que se estabelecem nas ações do presente prefigurando o futuro em atravessamentos de tempos.

 

Texto: Juliana Crispe

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