

Fefa Lins
Fefa Lins é um artista visual pernambucano, nascido em Recife nos anos 1990. Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Pernambuco, Fefa tem se destacado por uma produção artística centrada em autorretratos que investigam corpos e sexualidades dissidentes. Utilizando técnicas tradicionais de pintura a óleo ora influenciadas nas visualidades dos processos digitais, sua obra explora temas contemporâneos, como a construção da própria imagem, enquanto corpo transexual, e o tensionamento da relação entre artista e a musa.
O processo criativo de Fefa frequentemente parte da fotografia, onde experimenta os diferentes efeitos das câmeras digitais e de celulares. As imagens capturadas passam por edição digital, servindo como rascunho para as pinturas que desenvolve em telas em tecido. A presença de tecnologias de reprodução da própria imagem, como espelhos, selfies, frequentemente aparece em suas composições, sugerindo uma apropriação dos dispositivos que moldam a percepção de si mesmo.
Fefa entende o autorretrato como um espaço de construção e projeção, onde o que deseja mostrar ou esconder faz parte do processo contínuo de autoestudo de um corpo. Suas obras não pretendem representar uma realidade fixa, mas funcionam como exercícios de imaginação e reimaginação de corporalidades em constante processo de devir. Nessa abordagem, a pintura torna-se uma prática performática: o artista encena seu próprio corpo, enquanto a ação de pintar reflete a criação simultânea de si mesmo e da obra.
‘‘A pintura vem há muito tempo servindo aos discursos de poder. O nu, a representação de corpos e retratos, estão entre os gêneros mais antigos da pintura, mas de forma excludente. Me questionei muito sobre como falar de corpos de uma maneira que não fosse estigmatizante. Por isso, produzi muitos autorretratos. Para mim, é muito importante me debruçar sobre essa forma de autorrepresentação porque, se estou falando sobre os equívocos de representação que o homem europeu produziu em relação aos outros sujeitos, é preciso, também, me colocar nesse debate”, explica o artista.
Essa abordagem dialoga com as ideias do filósofo Paul B. Preciado, que discute em suas obras como os corpos são moldados por discursos normativos de gênero e sexualidade. Em Manifesto Contrassexual, Preciado argumenta que o corpo é um campo de batalha onde se travam disputas sobre identidade e poder. Fefa, ao usar o autorretrato como ferramenta de autoconstrução e resistência, desafia essas normativas, criando imagens que subvertem o olhar colonial e cisheteronormativo. Sua prática artística questiona, bem como prospecta novas possibilidades de representação e existência.
Texto: Walter Arcela