Ramsés Marçal

Ramsés Marçal, nasceu em 1976 na cidade do Recife, Pernambuco. Estudou artes plásticas na Florence Academy, na Itália e desenho industrial na Faculdade de Belas Artes de São Paulo. Como designer de produto, participou de projetos para diversos seguimentos da indústria, atendendo as empresas Fiat, Positron, John Deere, Plásticos Mueller, Tok&Stok e Dpot. Coordenação de importantes montagens de exposições na FAAP, Oca e Bienal.

“Para quem sabe manter flutuação fundamental entre o Mundo da Arte e o Mundo do Design,
como um criador que é Ramsés Marçal, há a graça de poder navegar em seu caminho alguns
mundos e aportar onde lhe aprouver a sensibilidade inteligente. Como quem vem de estudar
artes plásticas na Itália, tendo aulas em Florença, e vai lidar com a tecnologia de polímeros no
complexo industrial automobilístico no Brasil, das Minas Gerais. Tendo ainda passado pela
realização arquitetônica de “Instalações” de mega-mostras de arte internacional, como nas
Bienais e itinerâncias da Tate Modern, e chegado a ir viver com quilombolas para estruturar
uma linha de produtos desenhados naquela comunidade para Tok&Stok, esse trânsito entre os
universos e as experiências lhe deu tino e apuro, bem comunicados aos objetos que desenha.
E desenhar num sentido forte seria o intento deste Pernambucano de Recife, pois que sua mão
toca um estrato da memória comum e traça uma cosmologia entre a complexa vida super-
urbana e os sabores vernaculares das populações pré-citadinas, trazendo sua cultura material
de quem se embebe deste litoral de arrecifes e mangues com os olhos voltados para a zona da
mata e o sertão. E São Paulo tem seu gene de Sertão, pois ao escolher ali morar e sobreviver
ao agreste tempo da metrópole, na frequência caótica de sua secura concreta, as obras de
Ramsés são como que estratagemas redivivos, na sua filiação arquitetônica a um João
Cabral, um Gilberto Freyre e um Aloisio Magalhães, seus mestres nos cortes certeiros e no
bafejar caboclo, nos engenhos mestiços e na aguda sagacidade dos olhos que decifram nossa
gênese tão abrasileirada quanto cosmopolita. E podemos com ele flutuar entre o design e a
arte, sem que isso soe como um frisson de “economias criativas” ou “cultura da gentrificação”,
lembrando a solidez que tem o perfume dos materiais de uma memória ancestral.”

Texto: Afonso Luz, Crítico de arte.