
Mostra Acervo por Diogo Viana e Cecília Lemos
13 artistas
23/05/25 13/06/25
Francisco Baccaro , Isabela Stampanoni
Data
29/02/24
Artistas
Francisco Baccaro , Isabela Stampanoni
Curadoria
Raul Córdula
Quando a fotografia foi criada em 1826, por Joseph Niépce, ela não foi aceita pelos artistas da pintura como arte, apenas como técnica, e eles tinham razão naquela etapa do desenvolvimento humano. A fotografia causou impacto na arte da pintura porque, mesmo antes das cores, ela captava o momento imediato sem o recurso do desenho. Na verdade, a fotografia “desenhava”, não pintava, metáfora somente concebível com a implementação das cores. No entanto o desenvolvimento dos recursos fotográficos a levaram a uma realidade surpreendente. A colocação da fotografia no território da arte foi o maior dos seus desenvolvimentos criativos.
Este preâmbulo para o texto curatorial da exposição destes três artistas notáveis, dois fotógrafos e uma pintora, pretende traçar a relação entre visões contemporâneas sobre o tempo como elemento criativo das duas artes abordando a técnica da rotina fotográfica e a manipulação pictural. Eles são os fotógrafos Helder Ferrer, Francisco Baccaro e a pintora Isabela Stampanoni.
Através do imediato registro da luz o fotógrafo chega a situações intermediárias entre a captação da luz e a pintura, utilizando técnicas criativas, isto mesmo, que uma máquina fotográfica oferece ao artista, criador também de sistemas de arte utilizando, entre outras coisas, o tempo e a impressão da luz sobre o espaço e a área do suporte.
Da palavra Impressão chegamos a “impressionismo, termo criado por Claude Monet quando intitulou uma de suas pinturas de Impression – plen soleil, que nos fala sobre a pintura como impressão, longe da realidade, embora, para ele a arte ainda se ligava peremptoriamente à realidade porque esta era o ponto de partida, desde o Renascentismo das artes plásticas. O impressionismo nomeou o primeiro movimento da arte moderna.
Um clique fotográfico dura uma fração de segundo ou vários minutos. Corresponde à captação da luz, ou ainda, de determinada luz, e ainda diante do objetivo da luz desejada. Daí o “momento eterno” que caracteriza estas palavras, o que nos explica que a fotografia na atualidade é um manejo técnico que abrange vários universos criativos, daí a fotografia como arte moderna e contemporânea.
Assim como os pintores de Nassau, Frans Post e Albert Eckhout, “fotografaram” parte do Nordeste brasileiro para mostrar aos financiadores da colonização holandesa como era o território e o povo nativo, Jucelino Kubitschek também, mandou fotografarem a região onde hoje está Brasília.
A transformação que propõe a fotografia que Helder colocada nesta mostra já é em si a interferência técnica sobre o arcabouço do manuseio fotográfico, quando ele não mira mais o modelo, a paisagem, o mundo captado pela retina. Ele simplesmente fotografa o que está na sua cabeça e no seu coração, comportamento natural de qualquer artista. Devemos corrigir, assim, a ideia de que pintura se resolve com a colocação de tinta em uma tela.
A pintura na atualidade é cor sobre um suporte, independentemente da cor significar tinta. Nesta série Helder projeta eletronicamente nuances cromáticas para formar um panoramas, paisagens imaginárias, uma marinha, por exemplo, motivo recorrente dos fotógrafos acadêmicos. Ele renova a maneira de fazer realizando pontos acima na da feitura artística criando com os recursos que produzem imagens um universo à parte, longe da fotografia, pra simular uma paisagem. A proposta de Helder para a galerista Lúcia Santos, proprietária da Amparo 60, a levou à discursão que temos agora entre as artes, e a possibilidade de colocar no espaço expositivo uma mostra dos resultados desta maneira de agir interferindo técnica e criativamente na sua arte.
O fotógrafo Francisco Baccaro, também adepto de uma investida na realidade da feitura fotográfica, Colocou-se ao seu lado e nos surpreender no que diz respeito à sugestão da pintura, com uma série de imagens e de plantas coloridas que se intercalam nesta mostra de jardim, duas séries de imagens. Ele nos surpreende também por suas fotografias em preto e branco que sugerem desenhos confirmando as imagens do corpo numa série impactante pelo realismo, e ao mesmo tempo pelo universo fora desta mesma realidade, como se fosse uma situação akáshica, convivendo na realidade de sua câmara. A fotografia em p/b de corpos masculinos e femininos, nus e separados, nos revela seu íntimo de artista visual comprometido com o real e o imaginário ao mesmo tempo, nos mostra o homem com seu pênis de fora, uma vagina em close, uma figura feminina envolta em lusco-fusco que evoca uma pintura impressionista.
A maneira de Isabela Stampanoni abordar o tempo e a pintura no contexto que se coloca, nos faz inicialmente comentar os artistas de Nassau. Frans Post e Eckhout “fotografaram” o território conquistado pelos holandeses através da pintura, a forma possível na época de registrar fielmente qualquer coisa que se mostrasse à frente para mostrar ao poder em que estava ligado. Isabela pinta o território sul-americano como quem vê do alto, de um satélite. Ela pinta compulsivamente o mapa do continente como que para contar nossos problemas sociais, mas sem realismo, sem mesmo falar da paisagem. Ela pinta sua realidade íntima trabalhando tempo e espaço para colocar sua poética no universo da arte. Ela coloca o mapa como síntese das realidades políticas e sociais que nos envolvem como latino-americanos.
Queremos reafirmar que a fotografia realizada numa relação tempo e espaço, através da pupila diante do panorama, e a captação de imagens a partir de vários meios de produção também estabelece o comentário didático sobre a fatura artística. É importante mostrar ao público acontecimentos do metier do trabalho artístico também como forma de educação para a arte. A pintura se relaciona com o tempo quando se pinta um panorama ao ar livre, onde o tempo geográfico determina a situação da luz, exemplo histórico se vê ainda em Monet, na sequência de pinturas da Catedral de Rouen, pintadas em cada momento da luz durante um dia.
Esta exposição afirma a obra de três artistas se colocando na maturidade das obras destes três artistas em relação às obra pictóricas e fotográficas do contexto deste momento criativo.
Texto: Raul Córdula