27 artistas

Arrecifes

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  • Data

    29/11/23 21/02/24

  • Artistas

    Alex Flemming , Alice Vinagre , Amanda Melo da Mota , Ascânio MMM , Carlos Mélo , Cássio Vasconcellos , Célio Braga, Clara Moreira, Cláudia Jaguaribe , Cristiano Lenhardt, Diogum, Fefa Lins, Fernando Augusto , Francisco Baccaro , Gilvan Barreto , Isabela Stampanoni , José Guedes , José Patrício, Juliana Notari , Lourival Cuquinha, Luiz Hermano, Marcelo Silveira, Marcelo Solá , Márcio Almeida , Martinho Patrício, Ramsés Marçal, Raul Córdula 

  • Curadoria

    Guilherme Moraes e Walter Arcela

Constelação Amparo 60

Partindo da astronomia e da astrologia, uma constelação reflete a qualidade fundamentalmente coletiva — do ponto de vista da Terra — de corpos celestes em relação uns com os outros. Como afirma Bismarck (2022), seu significado é apreendido em termos relacionais, transbordando elementos individuais e capturando um momento, instável e efêmero, em suas etapas inacabadas de convergência, de inter-relação entre eles. 

A ideia de constelação sublinha tanto a relacionalidade entre os participantes de um contexto curatorial quanto sua dinâmica espaço-temporal, e, portanto, cai como uma luva para abordar o ponto de vista da curadoria que se situa no contexto em que aniversaria a galeria Amparo 60. Vislumbrar o conjunto denso de trabalhos de arte aqui avizinhados é também se dar conta de uma série de gestos de artistas, assistentes, curadores, galeristas, produtores, montadores e trabalhadores da cultura como um todo que se costuram à trajetória de um espaço que se confunde, ou, melhor dizendo, que se configura enquanto importante naco das histórias da arte de/em Pernambuco e do Brasil. 

Que história é essa? Para onde olha? Para que sentidos segue? Como buscou se transformar dentro de seus 25 anos? Esta mostra apresenta o trabalho de 48 artistas, em sua grande maioria atualmente representados pela Amparo 60, mas também hospeda alguns outros cujas trajetórias, embora tenham ganhado novos rumos, já caminharam lado-a-lado com a da galeria, em um mutualismo a partir do qual ela pôde se constituir do que é hoje. Também recebe algumas inserções, como acenos para um futuro a ser trilhado. Por fim, vale-se, apesar de sua nítida densidade e de seu árduo esforço em fazer caber, do que precisamente não contém, por meio de um sem-fim de indivíduos atualmente externos a este sistema, mas contidos nele dentro de suas tantas revoluções já ocorridas no tecido do tempo. 

Muitas exposições em potencial habitam esta, e, a cada novo olhar que se soma, brota uma nova versão do que ela pode vir a ser: a de uma fortuna crítica a partir da qual despontaram artistas e curadores no panorama da arte; a de artistas que ousaram dentro do auge do experimentalismo da galeria em um contexto em que ainda começavam a ganhar força as instituições públicas de arte no Recife; a de artistas que ficaram de fora; a de artistas que estão desde sua gênese até hoje; a de artistas iniciantes; …

Hoje é sabido que a luz de uma estrela só atinge a nossa retina após ter viajado por milênios através da vacuidade do espaço: quanto mais distante de nós, maior a certeza de que esses corpos celestes nos oferecem uma visão de um passado diferente do Universo. Logo, o que se vê presentificado é um conjunto de temporalidades mil que comungam do mistério acerca do que guardam para nós. Esta mostra busca evidenciar um estado, nunca

estanque, de constantes movimentos inscritos na relacionalidade de um dia após o outro que atravessa a específica lida institucional da Amparo 60. Talvez esse sistema pareça, se olhado com pressa, como algo posto, tão firme quanto o Tempo, mas, uma vez observando uma constelação com mais atenção, percebe-se que novos corpos celestes podem irromper dentro desta, que colisões, explosões, revoluções, órbitas novas reluzem dentro desse mar vivaz de poeira cósmica em que nadam cada um dos elementos por hora em conexão. A contemplação de uma constelação é um situar-se em uma temporalidade específica, em um pertencimento no assincronismo (ou na sincronia exata) entre passado, presente, e futuros por vir, evidenciando que o estado de convergência é tanto uma aventura, um malabarismo e um gesto de coragem quanto uma delicada artesania.

Texto: Guilherme Moraes.

 

Belo é o Recife pegando fogo

a cidade que não consegues

esquecer

aflorada no mar: Recife,

arrecifes, marés, maresias;

J. Cabral de Melo Neto

Com sete portas abertas para a Rua do Amparo, no número 60, na cidade de Olinda, onde inicialmente foi a loja de designer chamada Forja, da arquiteta Janete Costa, se desdobrou a galeria de arte contemporânea Amparo 60. Ela foi inaugurada com uma exposição chamada Objetos do Percurso, individual do artista Eudes Mota. Aqui em Arrecifes, utilizamos uma das obras de Eudes, uma espécie de porta, que compôs essa exposição seminal, simbólica e estrategicamente colocada numa das paredes de sinalização da exposição, de modo a referenciar as aberturas, ainda que contingentes, e resgatar a memória das passagens através da qual se constitui hoje a Amparo, dentro dos 25 anos que celebra. 

O exercício curatorial proposto aqui foi o de incluir todos os artistas representados atualmente pela galeria, além de inserções de outros, que em algum momento passaram por ela, ou que atuam no campo de produção artística da cidade de Recife. Evidente que, neste escopo, linhas de força poéticas sibilam em torno de uma sinfonia ritmosa irregular, onde, entre as obras, diálogos fugidios ora se conjugam por meio de convergências e similaridades, ora respiram tensionamentos que ativam sentidos imprevistos por meio de contrastes. 

Desta feita, esta exposição mobiliza os variados programas estéticos que detectamos no acervo interno e na história da galeria, tais como a filiação as tendências neoconcretas e geométricas, práticas de representatividade, gênero, e raça, diálogos entre forma plástica e pertencimento geográfico, a forte herança pictórica e a conceitual arquetípicas de Recife, bem como as temáticas ecológicas, políticas, existencial, eróticas, sexuais, ousadas e vívidas. Ao total de 50 metros de largura de paredes, visualiza-se uma amostra de 25 anos de trajetória do campo de produção artístico recifense, a partir da Amparo 60, reconhecendo, no entanto, que esta é uma totalidade imparcial, assumidamente incompleta, posto o estado de movência e latência em que essas instâncias, de modo permanente, se movimentam. 

Arrecifes, título desta exposição, carrega metáforas e ambiguidades valiosas: quando concebemos o prefixo A de Arrecifes enquanto uma preposição, tornando À-Recifes, despertamos o sentido territorial e político de estar À recife do Brasil, À recife de um eixo hegemônico de circulação e capitalização artística, frequentemente excludente do Nordeste. Lembra, assim, que a permanência e a crença na ativação de um circuito local de arte é constituída através de estratégia de fincapé e resistência. 

Já Arrecifes, enquanto ecossistema, é definido pelas ciências biológicas como formação rochosa marinha e submersa, em que as espécies relacionam-se intensamente entre si e com os fatores biológicos, químicos e geomorfológicos do ambiente. Longe de ser um agrupamento uniforme, os arrecifes de corais abrigam uma infinidade de seres vivos, sendo considerados uns dos sistemas marinhos com maior diversidade, possibilitando inúmeros micro-habitats, paisagens e de modos de vida. 

Este mesmo modelo de interações e paisagens é percebido neste mote curatorial, onde a economia de trocas simbólicas entre os artistas, e as obras aqui entoadas é fruto de uma relação ininterrupta e orgânica do próprio campo de produção artística local, enquanto um habitat, onde a Amparo 60 demonstra ser parte constituinte basilar. Desse ecossistema muito pouco serviria, em sua latência, capturar uma essência, ou propor uma hipótese definitiva sobre o estado atual da arte pernambucana, e de seus percursos em 25 anos. Mais interessante que ser analítico, é não perder de vista os versos de Luiz Gonzaga, onde ‘‘Belo é o recife pegando fogo’’.

Texto: Walter Arcela.

Imagens

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