Clara Moreira

Ato-desato

Saiba mais
  • Data

    18/06/21 16/07/21

  • Artista

    Clara Moreira

  • Curadoria

    Sofia Lucchesi

“Ato-desato” ou sobre desenhar em primeira pessoa. Entre o atado e o desatado, uma ação oculta. Entre o lápis e o papel, uma outra coisa. Na obra que carrega o título-mote desta exposição, observamos dois momentos: um primeiro, onde as fitas que saem do peito tocam-se num nó que as selam, um segundo, em que, apartadas umas das outras, desfazem os intricamentos que as prendem.  Ali, entre uma imagem e outra, existe uma lacuna, um segredo não revelado ou simplesmente a ação que não podemos ver, mas que emerge em palavras no título dado pela artista: Ato-desato.

Esse mesmo entre-tempo oculto está presente no fazer do desenho de Clara Moreira. Entre a imagem mental previamente rabiscada na cabeça e o momento em que o lápis toca o papel, parece haver um lapso, um momento de quebra. Lança-se, então, a pergunta: quando um desenho começa a existir? Seria quando o lápis toca o papel? Seria antes, como ideia imaginada? Ou apenas quando um artista declara sua finalização? Há ainda uma outra formulação para essa dúvida: um desenho só pode existir quando os olhos do outro pousam sobre a imagem desenhada, quando é entregue ao mundo e às subjetividades de novos sujeitos.

Esse desejo latente de se comunicar persiste na poética de Clara Moreira, relevando-se nesta exposição em fios que interligam um elemento a outro ou que simplesmente se fundem. Como os elos ora encontrados, ora perdidos numa conversa ou numa relação, é justamente a fragilidade inerente à tentativa de comunicação que está exposta. A vontade de se conectar ao outro surge não somente de maneira mais óbvia, nas ações em dupla ou em grupo em seus desenhos, pois é expressa também nos títulos de suas obras e nas falas do vídeo presente nesta mostra, escrito sem primeira pessoa.

Fala comigo, Ouço minhas lágrimas, Respiro minhas lágrimas… Clara não apenas escreveem primeira pessoa, mas desenha em primeira pessoa. É assim, então, que expõe a vulnerabilidade do fazer artístico e de seu lugar no mundo enquanto artista, ao desenhar-se desenhando um desenho que desenha –aqui parafraseando suas palavras no vídeo Diário para um desenho no espelho. Voltando o olhar para si –tanto de maneira metafórica quanto literal, já que muitos dos seus trabalhos de pesquisa com o corpo derivam de consultas ao espelho,–Clara desenha em tom confessional, descortinando os véus da própria intimidade, e propõe um diálogo aberto.

É a partir daí, então, que o sujeito singular –(eu) Ato-desato, (eu) Escuto minhas lágrimas –pode se tornar um coletivo: (somos) Muitas. Atando e desatando os nós que conectam ou que aprisionam, o desenho se manifesta nesta exposição como catalisador deste e de outros diálogos. Sigamos, então, conversando.

Texto Crítico: Sofia Lucchesi

Imagens

Conheça também

Ver todas

Mostra Acervo por Diogo Viana e Cecília Lemos

13 artistas

23/05/25 13/06/25

Explore

Tocar o céu com as mãos

12 artistas

20/02/25 30/04/25

Explore