José Rufino 

Axioma

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  • Data

    25/10/05 30/11/05

  • Artista

    José Rufino 

  • Curadoria

    José Rufino

Tudo o que se poderá apreender daqui são borrões putrefatos, arruinados por suas próprias existências, feitos para existirem aqui mesmo, por um tempo empilhados nas superfícies caóticas de nossas mesas e depois relegados a planos inferiores nas nossas gavetas.

Que sentido teriam estes rabiscos mofados, estas colônias verde-enegrecidas de mofo, avançando contra restos de textos empalidecidos? Que sentido teriam estes papéis milhares de vezes dobrados e desdobrados, esgarçados em metades e metades de metades, irrecuperáveis? Que sentido teriam estes papéis acidificados, de bordas queimadas e quebradiças, capazes de desintegrar-se em miríades de pedacinhos a um leve toque? Que sentido teriam estas notas fiscais grampeadas em maçarocas incompreensíveis, usados como blocos de anotar qualquer coisa?

Que sentido teriam estes garranchos de contas coalescentes e superpostas, resultantes de nossas contabilidades imorais, feitas tão intimamente entre mim e meus párias, como brincadeiras de jogo-da-velha, onde trocamos numerozinhos e outros risquinhos de uma mesa para a outra, até que eu chegue à conclusão, olhando para a distribuição dos números em cada conta, dos traços sob os números, da relação entre os traços e as bordas do papel e de todos os elementos riscados com os elementos impressos, que o documento está pronto e imediatamente deve ficar descansando na minha mesa ou de algum subalterno, se for o caso, recebendo depois de algum tempo, quando já perdeu a utilidade, novas interferências, mais involuntárias e esteticamente descompromissadas.

Texto de José Rufino

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