
Mostra Acervo por Diogo Viana e Cecília Lemos
13 artistas
23/05/25 13/06/25
Kilian Glasner
Data
11/05/16 08/06/16
Artista
Kilian Glasner
Curadoria
Eder Chiodetto
BANG! Estilhaços de cor e luz rompem o quadro, projetam-se em velocidade pelo espaço. As explosões conotam um artista flagrado em mutação. Um potente filtro acrílico se materializa e impacta a obra de tempos outros e os preceitos que a validavam. O tempo presente surge encapsulado no espaço cromático formado entre o acrílico e a obra transmutada.
Se outrora os Infinitos [2011] de Kilian Glasner nos conduziam por estradas luminosas de destino incerto, em que a melancolia com ares de romantismo alemão acelerava a tal ponto que não havia paradas possíveis na beira da estrada, agora percebemos uma desaceleração que leva o artista – e nós – a trocar a velocidade indômita pela possibilidade de experienciar o trajeto.
Ao parar no acostamento, o artista seduzido pelas luzes multicoloridas dos anúncios publicitários de néon, vê em perspectiva On the Road, a partir do retrovisor do bólido de Jack Kerouac a literatura e os filmes da geração beat, o universo estético dos comics com acenos claros a Roy Fox Lichtenstein e à Pop Art. Sem sabê-lo, diante desses neóns vemos também a materialização de tramas inimagináveis segredadas na física dos corpos celestes.
Descoberto em 1898 pelos químicos ingleses William Ramsey e Morris Travers, o gás néon, presente em todo o universo, tem uma de suas origens nas reações termonucleares entre o oxigênio e o carbono contido no núcleo das estrelas. A explosão de algumas estrelas e a formação de outras leva à libertação de grandes quantidades de gás, fazendo o néon espalhar-se pelas nebulosas. Condensados em tubos, anunciam facilidades e felicidades da indústria do consumo e do entretenimento. Eis que a natureza da luminiscência dos corpos celestes surge domesticada pelo homem e pela cultura.
Entre o comic e o cósmico, a obra de Glasner ganha agora novas referências que unem a representação da paisagem em tom fabular sem abrir mão da ideia de transcendência, metaforizada nas explosões que alteram o estado da matéria – seja ela vidro, fogo, HQ’s ou constelações e nebulosas. Fabulação e transcendência, eis aí o núcleo da gênese do processo criativo do artista.
A imbricação original que Glasner promove entre fotografia, desenho e pintura, alcança agora novos, cromáticos e lisérgicos paradigmas. Com o dom de criar mundos imaginários a golpes de pastel seco sobre o papel, o artista nos coloca dentro de um universo surpreendentemente estável, que encontra o ponto de equilíbrio entre o desejo indomável de acelerar nas curvas da estrada e o prazer de contemplar, estacionado no acostamento, os astros no firmamento que um dia poderão tornar-se tubos de neón. BANG!
Texto crítico: Eder Chiodetto