
Mostra Acervo por Diogo Viana e Cecília Lemos
13 artistas
23/05/25 13/06/25
José Guedes
Data
05/03/20 09/04/20
Artista
José Guedes
Curadoria
Daniela Bousso
Ilusão: a arte no jogo perceptivo de José Guedes
Ao longo do tempo, por mais de 45 anos da produção artística de José Guedes, as referências constantes que encontramos sobre sua obra nos textos críticos apontam afinidades com as linhagens construtivas e com a abstração radical do minimalismo. Em seu trabalho, tudo ocorre dentro de um campo estético, no qual o pensamento pictórico – ainda que não limitado à pintura – ora constrói, ora desconstrói a ontologia formal que caracterizou o paradigma da representação nas linguagens do século XX.
Nesta série Fênix (2018-2019), a vida real e o peso dos anos no século XXI parecem acirrar o deserto existencial que assola a poesia e a magia de se assumir um posicionamento estético. Ainda que a ambiguidade seja a morada da alma, sobrevive o desejo de alteridade, mesmo que a razão maior não seja a de “colocar mais poesia no mundo” como desejava o artista no final dos anos 1990, porque hoje se tornou cada vez mais difícil acreditar nisto. Talvez prevaleça o desejo de provocar o outro, para indagar sobre a possibilidade de se reconstruir algo do zero, a partir das brumas destiladas de “dentro do nevoeiro” em que vivemos na atualidade. Uma vez que a assertividade do Modernismo e a euforia do Pós Modernismo esvaíram-se, a noção de incômodo passou a tomar a forma dos desarranjos de um mundo surreal.
E a militância por um partido artístico? Talvez não mais, talvez… mais tarde então? Como pensar a arte hoje? Como surpreender o espectador quando tudo já foi feito? Os múltiplos significados que Guedes evocava via o jogo de luzes e sombras, os diálogos perceptivos que antes povoavam o seu universo agora estão presentes, no modo com que o artista cria ilusão e na maneira de surpreender o observador. Fênix (2018-2019) revela as ações de Guedes em três atos: o primeiro amassa a história da representação e a da arte, numa ação iconoclasta que alude à inutilidade das coisas. No segundo ato ele recria o objeto e lhe confere uma forma, fazendo-o renascer das cinzas. No terceiro ato, quando fotografa, recorta e imprime ele recupera a ontologia da representação.
No protesto silencioso de Guedes não cabe melancolia. Ao invés vem o estratagema e, na perícia de capturar o nosso olhar e nos envolver em um jogo de ilusão, nos surpreender, algo renasce. E de repente lá estamos nós, diante de Fênix, a série de objetos que nos intriga e nos faz desacelerar para uma parada reflexiva.
Recorte do texto curatorial de Daniela Bousso