Rodrigo Braga

Desejo Eremita

Saiba mais
  • Data

    09/09/10

  • Artista

    Rodrigo Braga

Série resultante de pesquisa contemplada pela Funarte, no Programa de Bolsas de Estímulo à Criação Artística – categoria fotografia. Trabalhos realizados nos municípios de Solidão e Tabira, sertão de Pernambuco.

* * *

Solidão é um ponto no espaço. Um local físico de nome poético. Uma pequena cidade de cinco mil habitantes situada no Sertão do Pajeú pernambucano, no fim da pista, já na divisa com o estado da Paraíba. Junto com Tabira – município vizinho um pouco maior –, é sinônimo do isolamento que interessava à minha vivência imersiva de criação.

Um outro espaço implica num outro tempo, e vice versa. Tal Desejo Eremita foi para mim uma necessidade imanente de constituição de um espaço-tempo diferente daquele rotineiro da metrópole. Nesse tempo dilatado, imaginava vivenciar uma nova experiência – ligada aos aspectos mais crus e ritualísticos do ambiente natural –, que pudesse me levar a um estado criativo mais próximo aos sentidos. Contudo, para além de uma concepção idílica e contemplativa da natureza, desejava ser levado também a campos mais desconhecidos, onde se situam a disputa, o risco e o medo em suas potências menos socialmente mediadas. Sem que fosse programado, os aspectos culturais foram permeando intensamente a experiência com o natural. Estar de corpo inteiro no espaço é reconhecer-se nele, numa outra interpretação de nossa própria origem e fim.

Deparei-me com ambientes férteis em aspectos simbólicos, repletos de possibilidades de atuação. Esperava uma paisagem mais desértica e monótona, mas acabei diante de inúmeras possibilidades.

Uns insetos se camuflam; outros, com garra, mostram seu território. O urubu se confunde com a caatinga queimada – mortos vivos. Feira de tudo: bananas, pedras, chifres, cerca, poeira, bois, sol, arbustos, bacuris, fogo e sangue – o que é costumeiro. Trovões, água barrenta para banhar-se, raios, água de telhado para beber. Caminhos desérticos como trincheiras, arames de espinhos. Vou ao matadouro como quem visita o vizinho. Orelhas de gado alimentam cães, já que a carne é do homem. Ouço um tiro de longe, ouço mais uma lenda. Um bode vira cão. Eu viro cobra entre pedras – sou cobra, quando quero. A cobra, como sempre, engole o sapo; o escorpião, o grilo. As caranguejeiras, sempre por perto, não mais afligem. Acolho uma cadelinha inchada, com seus carrapatos de gado. Vagalumes flutuam entre as estrelas, o amanhecer sopra a neblina. Sexo e paisagem. Noite novamente, e tudo de novo onde nada é novo. E ainda sim é surpreendente. Junto um pouco de mim, um pouco do entorno, um pouco do outro animal (humano ou não) e rumino imagens. Retratos de fora e de dentro.

Adentrei em busca de sossego, de uma paisagem simbólica que não encontraria aqui onde vivo, mas acabei me deparando novamente com o que já habitava meu trabalho: o inevitável ciclo vital ao qual todos os seres estão fadados.

Rodrigo Braga

Imagens

Conheça também

Ver todas

Mostra Acervo por Diogo Viana e Cecília Lemos

13 artistas

23/05/25 13/06/25

Explore

Tocar o céu com as mãos

12 artistas

20/02/25 30/04/25

Explore