Fernando Augusto 

Habitar

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  • Data

    07/12/11 07/01/12

  • Artista

    Fernando Augusto 

  • Curadoria

    Marcelo Silveira

Quem sabe, nesta exposição, poderíamos trazer para a galeria um pouco do processo e do ambiente vivenciado no ateliê?

  • Sim, um pouco das dúvidas, das incertezas, do movimento do fazer. Então, vamos pensar pintura, desenho, imagens em processo, cadernos de anotações, livros de artistas. Lembro-me de que certa vez, olhando meus trabalhos, você me falou para ser mais generoso com o espaço quando eu fosse fazer uma exposição. Acho que você via ali uma possibilidade de trabalhar o espaço expositivo com as obras ativando o espaço, o lugar. Esta mostra na Galeria Amparo 60 é um bom momento para realizarmos essa ideia.

Sim, porque você pensa mais o bidimensional, e eu penso nas relações dos objetos com o espaço.

  • Quando a galeria me propôs um projeto de exposição, eu pensei, a princípio, na série de pinturas que venho fazendo que se chama Habitar. São pequenas telas a óleo que tratam da questão dos espaços vazios, de cantos e vãos de paredes dentro de casa. São espaços que sempre passam despercebidos, e às vezes neles são colocados móveis que ali ficam por muito tempo e, quando se tiram esses móveis, parece que os lugares guardam uma memória dos objetos ausentes.

O livro de artista que você me mostrou Faça uma frase nesse instante poderia ser o elemento norteador da exposição — aberto ou fechado, com páginas soltas ou coladas nas paredes feito cartazes. Junto a ele, outros livros que levam até essa sua série de pinturas, a fotografias e até mesmo a desenhar na parede da galeria. Isso eu chamo de habitar.

  • Sim, eu até já fiz um projeto de exposição trabalhando essa ideia: um pequeno quadro na parede e a continuação das formas no espaço, além da moldura. É uma prática de ateliê, muitas vezes vou acrescentando telas ou papéis a uma composição enquanto vou desenhando e, só depois, ao sabor da imagem, é que defino as dimensões do trabalho.

A sua série Pintura sobre pintura, desenvolvida nos anos 1990, tem isto; um processo, uma prática expandida da pintura, camadas, atualizações de pensamentos sobre pensamentos anteriores. Isso acontece de muitas maneiras no trabalho de ateliê e no processo criativo. Às vezes, fazemos coisas que, com o tempo, não gostamos mais, então devemos atualizar esses trabalhos. É covardia continuar convivendo com os trabalhos desatualizados, de que não gostamos mais, somente porque um dia o demos como pronto. Exposição é também pensar o espaço. Isto é: ativação do espaço. Exposição é também criação. Assim, levar os trabalhos para uma sala expositiva é continuar a criação, a construção do trabalho.

  • Articular as diferentes obras é parte do processo de trabalho do artista. Essa interlocução — conversa entre artistas sobre os trabalhos e o processo de construção da obra para uma exposição — me interessa muito. Tal como fazíamos quando éramos estudantes de Artes, em workshops, visitas a ateliês, etc. Hoje, perdemos bastante essa prática porque nos tornamos profissionais e ficamos com pudores de opinar no trabalho do outro e também de aceitar opiniões. Esta exposição nos faz retomar isso. Você já visitou várias vezes meu ateliê no Recife e em Gravatá, agora, aproveito este projeto de exposição para visitar o seu, em Vitória, ver seu processo de trabalho, também sua oficina de serigrafia e, quem sabe?, conhecer o espaço cultural do Mosteiro Zen de Ibiraçu.

Trecho da conversa entre Fernando Augusto e Marcelo Silveira para tratar da exposição

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