Márcio Almeida 

Habite-se

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  • Data

    14/11/06 09/12/06

  • Artista

    Márcio Almeida 

Conheço o artista Márcio Almeida e o seu trabalho dis/forme em relação à SituAção através de suas propostas e instalações, sempre com referências ao ser humano e seus questionamentos. Nas palavras do artista, uma das funções do seu projeto “é gerar o pensamento e o questionamento do global em contraposição com o local”.

O próprio título da exposição faz uma alusão ao documento/licença da prefeitura para liberação do imóvel para habitação. Esta exposição, composta por fotografias, cerca de 60 obeliscos (feitos em ferro soldado do tipo vergalhão, cuja oxidação também é incorporada à sua ideia) e um vídeo-registro feito por Oriana Duarte — em função do arrombamento do seu carro, quando ao prestar queixa na polícia filmou a vidraça quebrada e o obelisco deitado num banco, passado desapercebido pelo ladrão — é apenas uma parte do registro do seu projeto Obelisco Andarilho.

Ao contrário dos obeliscos convencionais, que são grandes, imponentes e imóveis, servindo para registro de marcos históricos, os de Márcio Almeida transitam por diversas cidades brasileiras e também no exterior, a exemplo de Paris, Londres, Roma e Berlim, entre outras. Esses objetos foram retirados da sua produção de desenhos e pinturas, onde já estavam sempre representados.

Observando as fotos tiradas na cidade de Garanhuns, em Pernambuco, o artista percebeu um fato curioso: a ausência de sombra do obelisco nas fotos feitas nas ruas em plena luz do dia. Ao entregar o seu objeto para as pessoas, ele recebeu uma documentação foto/gráfica bastante diversificada no que se refere a situAções, habitações e lembranças de locais bastante inusitados — como banheiros, praças (em uma delas, um guarda protege o obelisco), lojas, fundo do mar, superposições com monumentos. Uma série de registros que merecem uma análise sociológica e antropológica.

Em uma série de fotografias do seu work in progress, as projeções das sombras dos obeliscos se confundem com o próprio objeto, gerando uma perspectiva inovadora. Sendo Márcio Almeida um artista-pesquisador nato e multimídia, esta propostAção não é um trabalho isolado em sua diversificada e inteligente produção.

Ele é um dos poucos artistas brasileiros, ao lado de Nelson Félix e Eleonora Fabre, a trabalharem com GPS. O público pernambucano pôde conhecer esse aspecto de sua produção durante sua participação como artista convidado do 45º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco, realizado na Fábrica da Tacaruna em 2002/2003, quando montou sua obra intitulada DeFormação (Ação/Marcação) na parte interna e externa da fábrica.

Segundo depoimento do próprio artista, a obra “deu sequência à série Ação/Marcação utilizando instrumento de localização por satélite, o GPS (Global Position System). De-Formação investigou posições e deslocamentos, em uma ação marcada por três etapas: registro e marcação de um determinado ponto, a partir das coordenadas da latitude e longitude; interferência do artista neste lugar, retirando a matéria (areia) e substituindo-a por água; e transposição da matéria (areia) para o espaço expositivo, sobrepondo as matérias de dois pontos geográficos distintos”.

Além da produção citada acima, Márcio realizou diversas intervenções urbanas e, recentemente, um trabalho bastante conceitual: a transposição de um barraco de uma favela para o Museu de Arte Contemporânea de Olinda, em 2006, como projeto de pesquisa contemplado no último Salão de Arte Contemporânea do Museu do Estado de Pernambuco.

Ele também tem uma produção significativa nos seus trabalhos de vídeo, como Direita/Esquerda, Mani-Oca, Game Over, Delivery e PA #1, 2 e 3, entre outros, que de certa forma estão sintonizados com sua produção como um todo.

Por fim, faço uso de uma outra frase do artista que resume muito bem a sua proposta: “o trabalho fala pouco e pergunta muito mais”.

Texto: Paulo Bruscky

Imagens

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