
Mostra Acervo por Diogo Viana e Cecília Lemos
13 artistas
23/05/25 13/06/25
Aprigio e Frederico Fonseca
Data
08/07/99 07/08/99
Artista
Aprigio e Frederico Fonseca
Curadoria
Joseph M. Luyten
Quando eram crianças, em Olinda (PE), os irmãos Aprigio e Frederico Fonseca também brincavam de mocinho e bandido. A diferença é que, no imaginário infantil deles, os personagens não eram caubóis e índios ou policiais e ladrões. O maniqueísmo era personificado por holandeses e portugueses, em batalhas pelas terras de Pernambuco.
Hoje, cerca de 40 anos depois, dois dos “invasores” holandeses -os pintores Albert Eckhout e Frans Post, integrantes da comitiva de Maurício de Nassau que dominou entre 1630 e 1654 o Nordeste brasileiro- são exaltados pelos “ex-inimigos”, na exposição “Olanda, Olenda, Olinda”.
Para revisitar Post e Eckhout, entretanto, Aprigio e Frederico olharam antes para as calçadas de Olinda. Desde 1978, eles recriam inscrições feitas por anônimos em cimento fresco e em pátios da cidade, no que se tornou uma referência de sua obra e foi definido por Ariano Suassuna como um “trabalho genial e revelador”. Post e Eckhout pouco viram Olinda -incendiada pelos holandeses, que fizeram do Recife a sua capital-, assim como Aprigio e Frederico, pela ausência material de vestígios da ocupação, tinham nas suas lendas infantis a maior referência do “Brasil Maurício”.
A revelação -o encontro de “Olanda” com “Olinda”- veio da descoberta, pelos irmãos, dos livros “O Brasil que Nassau Conheceu”, com paisagens de Post, e “Teatro das Coisas Naturais do Brasil”, com retratos de Eckhout. “Passamos a fundir a riqueza natural retratada por Post e Eckhout com os signos das calçadas de Olinda”, conta Aprigio, 46, que vive em São Paulo há 16 anos -Frederico, 44, mora em Olinda.
Ariano escreveu que, ao descobrir a obra dos irmãos, teve uma “sensação vertiginosa, que parecia me fazer sobrepairar o tempo e suas arbitrárias divisões entre passado, presente e futuro”. Olanda, Olenda, Olinda confirma essa atemporalidade. Nas obras em papel de seda, a limalha de ferro diluída em verniz inventa uma antiguidade fresca, sem mofo. Tão ou mais intrigante é a simplicidade criativa das lâminas de cobre e de rádica emolduradas por caixinhas de CD.
Texto extraído da Folha de S.Paulo