16 artistas

Pôr Defesa

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  • Data

    25/04/24 14/06/24

  • Artistas

    Ana Neves, Anti Ribeiro, Célio Braga, Clara Moreira, Cristiano Lenhardt, Diogum, Fefa Lins, José Patrício, Lourival Cuquinha, Luiz Hermano, Marcelo Silveira, Marlan Cotrim, Martinho Patrício, Mitsy Queiroz, Abiniel J. Nascimento, Miguel dos Santos

  • Curadoria

    Ariana Nuala

Partir dos músculos. Essa é a proposta que Elsa Dorlin nos faz ao pensar sobre a noção de defesa. A autora escreve: “O objeto dessa arte de governar é o impulso nervoso, a contração muscular, a tensão do corpo cinésico, a descarga dos fluidos hormonais.”. Há em Dorlin uma consciência sobre o poder sobre o corpo do outro a partir de políticas e governabilidades, assim como Foucault, e como essas práticas atravessam um lugar sutil na tentativa de controle entre algumas existências dissidentes. Existe, além disso, uma ambiguidade inerente à noção de defesa, pois o ato de se proteger pode também implicar ser o próprio algoz, ao ser interpretado como um ataque ao status quo estatal, envolvendo questões de moralidade e normatividade. As tecnologias e ferramentas de defesa ainda refletem uma dinâmica de poder sobre o corpo ameaçado, cujo contra-ataque, dentro desta lógica, pode inadvertidamente ferir a própria integridade.

Neste caso, o sonhar abre uma dimensão fundamental para a existência, ele modela texturas, músculos e tensões; o campo onírico poderia criar uma elasticidade para alguns corpos, podendo-se alongar os músculos. Chutar, quebrar, romper. Retomar. Retornar. Se abrangemos um pouco a ideia de defesa, e pensamos em outras agências que compõem a natureza, tal qual a humana, podemos também visualizar essa camada mais densa sob a pele, às vezes tomada por uma transformação que opera também na superfície, como em cores e padrões que se misturam com o ambiente e resultam em mimetismo ou camuflagem. As cascas e espinhos presentes em algumas estruturas físicas de plantas permitem sua longevidade contra alguns animais herbívoros. O próprio veneno e também os feromônios de alarme podem ser liberados como potenciais escudos contra predadores.

Ainda assim, elevando esses processos, por que não pensar nas montanhas que em suas altitudes elevadas acabam por dificultar idas e vindas, e se protegem de certos alcances? A irradiação da violência se propaga entre todas as esferas de vida, sejam bichos, plantas, pedras ou seres humanos, seus tecidos corpóreos encontram-se gastos. Porém a possibilidade também de uma ressonância sutil, através de sussurros, aparentes desordens e outras formas de fazer, podem ressoar em uma defesa coletiva que fissure o fantasma iminente da apresenta: pôr defesa morte. Neste sentido, como abrir mão de uma lógica individual de defesa onde a pessoalidade não ressoa e sim fixa estruturas? Seria uma promessa? Para a exposição, há uma incerteza sobre se todos os tecidos são entidades porosos, compreendendo que são criados através de rugas, elasticidades, apertos que são consequência de sua existência. Algumas apresentam uma aparência ríspida, outras destacam-se pelo brilho fugaz, enquanto algumas são arenosas, frias por fora e repentinamente aquecidas em seu interior. A constituição destas, talvez, ofereça vislumbres sobre a defesa, mas os organismos não se iludem em sua completude.

Inserindo a dimensão histórica da arte, podemos perceber que a exploração da textura, que se manifesta como uma defesa sensorial na exposição, é uma temática recorrente ao longo da história artística. Desde os afrescos renascentistas, onde a técnica de pintura era essencial para criar uma sensação tátil nas representações, até as vanguardas do século XX, que romperam com as convenções estéticas tradicionais em busca de novas experiências sensoriais. O que parece ser, neste momento, um contorno entre um corpo e outro, retira-se do individual para se reconhecer no infinito. A exposição sugere que as obras sejam sentidas como armaduras, vestimentas prontas para serem engolidas por outras peles. Dessa forma, tornam-se presenças entre andanças que subvertem o impartilhável. Cada artista contribui para criar uma tapeçaria visual que transcende sua individualidade.

As relações entre essas obras não apenas recriam nossa leitura do mundo, mas também convidam a explorar novas perspectivas, revelando a pluralidade de interpretações que as texturas oferecem. Nesse contexto, a história da arte se entrelaça, proporcionando um diálogo entre as técnicas contemporâneas e as tradições que moldaram a compreensão estética ao longo dos séculos. Dialogando novamente com Dorlin, o sonhar não é simplesmente abstrato ou não palpável; ele está ligado a transformações concretas que se materializam no corpo.

Texto: Ariana Nuala

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