
Mostra Acervo por Diogo Viana e Cecília Lemos
13 artistas
23/05/25 13/06/25
Alice Vinagre , José Paulo , José Rufino , Rodrigo Braga
Data
01/06/05 16/07/05
Artistas
Alice Vinagre , José Paulo , José Rufino , Rodrigo Braga
Curadoria
Cristiana Tejo
Cristiana Tejo – Curadora
Não adianta. O impulso do pensamento ainda nos leva sempre a categorizar, a agrupar as coisas para melhor serem compreendidas e discursadas. O que se torna premente na contemporaneidade, no entanto, é compreender que esse alinhavo é provisório, precário, subjetivo e não mais totalizador. Ao deparar-me com o heterogêneo grupo escolhido pela Amparo 60, essa vontade de arrumar, de ordenar apresentou-se, como sempre, de maneira imediata. Profundo respiro depois e os fios tênues que oito artistas tão diferentes começaram a aparecer. O que mostrou-se mais persistente com o passar dos dias foi uma forte remissão ao sufixo/pospositivo grafia, pois os trabalhos sugeriam um pouco de cartografia, de geografia, de escrita, de impressão e de outros elementos que podem ser associados a esta palavra num sentido bem amplo. Pensei que poderia compreendê-los coletivamente como se tratando de umas-grafias, sendo seus significados individuais suspensos (novamente provisoriamente), em prol do diálogo com a diferença.
Apesar de não querer influenciar o olhar do visitante (não seria esta uma outra impossibilidade?), não consigo avançar no texto sem me referir aos dois segmentos que emergem desse encontro. Um seria mais político, lidando com uma certa cartografia do consumo encabeçada pela tecnologia, pelo fluxo de bens e pela comunicação. O outro respalda-se num tom lírico, de forte carga subjetiva, poética, imagética.
Flávio Emanuel apresenta um trabalho novo: Telemarketing lover, que foi sintetizado para a mostra. Trata-se de uma reflexão do artista sobre a crescente mediação feita pelas corporações da vida contemporânea. Flávio cria um sistema de comunicação baseado no 0800 em que as únicas mensagens cabíveis sejam de afetividade e amor, mesmo sendo o receptor (o mecanizado profissional de telemarketing) programado para não receber este tipo de conteúdo. José Paulo encorpa sua pesquisa sobre a genética e a tecnologia, com uma série de trabalhos que denomina de Saturnos. Ovos de cerâmica contrapõem-se a estruturas de metais pesados e geram visualmente outro sistema que suscita uma cosmografia. Ao pé da letra seria descrição do mundo, mas poderíamos interpretar também como uma metáfora do sistema produtivo atual. Neste sentido, seria propício avizinhar o trabalho Mapa do Consumo Fortaleza, de Felipe Barbosa. Formalmente seu movimento também ascende ciclicamente, remete a órbitas, mas seu foco é a formação de blocos por afinidade do consumo de bebidas alcóolicas. Esses aglomerados vão se formando à medida que o artista insere-se no cotidiano de uma cidade e vai coletando tampinhas de cerveja. A incidência dos encontros vai determinando o formato de seus mapas. Rodrigo Braga também acaba por apoiar-se em mapa e em consumo em seu Ornamentos para o corpo, só que de maneira outra. Um apanhado de símbolos que nos lembra do lugar e da ponderabilidade do corpo, num contexto tão saturado pelo consumo e pelas mensagens do supérfluo.
Por outra mão aflui o trabalho de Alice Vinagre, um políptico cuja conformação já remete à imagem do labirinto, que aparece ou é sugerida em suas pinturas. Neste caso o corpo faz-se da memória, da bagagem afetiva que individualmente carregamos e com a qual iremos visualizar esses fragmentos que geram a obra. O sujeito também dá o tom ao trabalho Percolatio (filtração em latim), de José Rufino. Porém, o artista refere-se a estâncias de poder nas quais o indivíduo e a socidade se vêem trançados. Recorrentemente, são escolhidos mobiliários ou objetos ligados ao universo escriturário, burocrático para suas instalações. Novamente estamos diante de um trabalho que compatibiliza memória coletiva e individual, e apóia-se na simetria, conseguida muitas vezes por monotipias, seguindo o princípio das manchas de Rorschach. Malu Fatorelli grafa dicotomias e dissimula materiais. Também são mapas, só que abstraem noções de longitude e latitude, de posicionamentos de lugares. Os materiais são dissimulados, assim como os dados que elem contêm. Ficam, portanto, os desenhos e as sugestões de sentido. Por fim, chegamos à Rosana Ricalde e sua poética ancorada na palavra escrita. Provérbios trama ditos populares que ganham volumetria com as cores. Num outro trabalho grafias se encontram: pela fotografia, é representada a palavra arte gravada e rebatida