Francisco Baccaro , Rodrigo Braga, Marcos Costa, Juliana Calheiros

Umbigo

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  • Data

    05/02/02

  • Artistas

    Francisco Baccaro , Rodrigo Braga, Marcos Costa, Juliana Calheiros

umbigo. s.m. 1 Cicatriz no meio do ventre, originada pelo corte do cordão umbilical. 2 Adriana Aranha se vale de agulhas e lã preta para construir objetos em ponto alto de crochê: um cérebro macio e poroso, um coração delicado e morto, uma mão cujos dedos se alongam e despencam da superfície onde repousam. São três as partes do corpo que representa, são três as instâncias de ação sobre o mundo que articula no tempo. Um tempo longo, distendido na repetição dos gestos curtos que tecem os objetos e que se concentra inteiro no espaço pequeno que eles ocupam. 3 Nas fotografias de Francisco Baccaro só há quase bocas. Bocas estranhas e amorfas, talvez porque vistas de perto e distantes dos rostos a que pertencem. Bocas abertas, paradas, ocas ou cheias de dentes, bocas já afônicas por tanto grito à toa. Bocas abstratas: lugar da fala, do gozo, do alimento, buraco ou fronteira. Bocas que não articulam palavra e que trazem em potência, contudo, o jorro desordenado do discurso amoroso. A boca como o centro de tudo, resumo do corpo. 4 Os homens desnudos que Juliana Calheiros pinta se movem com graça e desenvoltura incomum para a idade que aparentam. Talvez porque feitos pelo avesso, como sobras de um gesto construtivo habituado ao convívio com a gravura e com a goiva. Ao invés de resultarem do traçado de linhas seguras sobre o plano, são o que resta do apagamento gradual e incerto, com tinta espessa, do que há no entorno imaginado das figuras. Inexatos e bonitos, harmônicos e tortos, os corpos desses homens maduros desconhecem conformidade a modelos, tornando-se estranhamente semelhantes aos corpos sem regras de crianças e loucos. 5 As coisas ordinárias com que Marcos Costa faz objetos – copo, colher e água – se tocam, se arranham, se espelham, se estranham, se aproximam e se afastam umas das outras. Deleitam-se com o que é próprio delas e parece que desejam o que só as outras têm: mimetismo absurdo e óbvio. Umas são duras, a outra é mole. Uma é fluida, uma se molda, a outra se quebra se com ela se mexe muito. Duas são translúcidas, a outra é opaca. Matérias distintas, fazem e desmancham hierarquias a toda hora. 6 Feito para ser pendurado ao pescoço, o objeto atraente que Rodrigo Braga oferece a quem queira dele fazer uso tem sentidos nunca mais que prováveis, escapando sempre à catalogação do que é já sabido ou certo. Escreve/inscreve, com pólvora e chumbo (ilustração decorativa do risco), palavras avizinhadas ou sobrepostas num cepo pesado e duro: arma/poder/pólvora. Jogo de palavras só inteligível em outra língua; sentidos só entendidos quando já é tarde. O corpo à mercê de tudo. 7 Cinco marcas de um incontornável começo.

Texto de Moacir dos Anjos

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