
25/06/25
Quem visitar a 59a Bienal de Veneza (23 de abril a 27 de novembro deste ano) e passar pelo pavilhão do Brasil vai encontrar a exposição “Com o coração saindo pela boca”, do artista alagoano Jonathas Andrade. Os trabalhos inéditos levados para a mostra se apropriam de expressões e ditados populares como “entrar por um ouvido e sair pelo outro” e “nó da garganta”. Andrade hoje vive em Recife, cidade onde Bárbara Wagner, artista brasileira da mesma geração, também fixou residência. Em parceria com o artista Benjamin De Burca, Wagner foi quem ocupou o pavilhão do Brasil na edição anterior da mostra italiana, em 2019. Esses exemplos servem para ilustrar que não é só de artesanato e arte popular que vivem as artes visuais nordestinas. E não é de hoje.
De acordo com Fernanda Feitosa, fundadora e diretora executiva da SP-Arte, principal feira de arte do país, em 2018 o evento realizado na capital paulista teve presença de três galerias do Nordeste. Neste ano, foram cinco. “É um aumento gradual, mas significativo e sustentável”, avalia em entrevista ao Investindo Por Aí. Entre os dias 24 e 28 de agosto deste ano, a SP-Arte terá uma segunda edição com o título “Rotas Brasileiras”. Nesta feira, contará com a presença de galerias e projetos convidados de Pernambuco, Alagoas, Ceará e Maranhão.
“Esse mapeamento da singularidade de cada cena local com seus artistas e seus agentes é fundamental”, afirma. “Nossa ideia é que o público e os próprios galeristas entrem em contato com artistas que ainda não conhecem ou que redescubram veteranos brasileiros com produções que nem sempre temos a oportunidade de ver.” Os galeristas Lucia Santos, de Pernambuco, e Marco Antônio Lima, do Maranhão, contam como é empreender com arte contemporânea no Nordeste.
Bodas de prata no mercado de arte de Recife
Em 1998, antenada na produção dos jovens artistas de Recife, Lucia Santos fundou a galeria Amparo 60. A galerista reuniu em seu primeiro time nomes como José Patrício, Marcelo Silveira e Eudes Mota, que estavam em início de carreira na época e hoje têm obras nas principais instituições de arte no país. Santos recorda que a chegada da galeria culminou com um bom momento das artes visuais na capital pernambucana – o Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM) foi fundado em 1997, por exemplo.
“A galeria não é apenas um lugar de pendurar obras nas paredes. Além de ser um instrumento comercial, é um espaço cultural importantíssimo”, afirma à reportagem. De acordo com a galerista, a Amparo 60 esteve muito relacionada à cena cultural da cidade, o que acabou ajudando a formar esse público de colecionadores e interessados em arte. Santos destaca ainda que para formar um público é preciso ter uma relação sincera, explicando, por exemplo, o motivo de alguns trabalhos custarem mais e outros menos.
A Amparo 60 nunca quis ser vista como uma galeria regional. E tem em galeria artistas de fora de Recife – como o paulistano Cássio Vasconcellos e o português Ascânio MMM, que vive no Rio de Janeiro. Nesses 24 anos, trabalhar com artistas “não pernambucanos” tem se revelado a sua maior dificuldade. “Pernambuco gosta muito de consumir seus próprios artistas. Para nomes de outros estados terem um retorno por aqui demora um pouco”, explica Lucia. Atualmente, 70% das vendas da galeria são feitas para um público local.
Sem deixar que quase 25 anos de atuação a acomodassem em seu negócios já consolidado, Lucia fundou, em 2021, a Número Galeria, focada na venda de trabalhos seriados, como gravuras, pequenos objetos e bandeiras. “Quem era criança em 1998 hoje pode ser um jovem colecionador. Queremos mostrar que, para consumir arte, você não precisa olhar só para os nomes que estão consagrados. Conheça o trabalho de jovens artistas. E não precisa dispor de grande quantias”, explica. De acordo com a galerista, com R$ 2 mil é possível comprar um trabalho de artista em começo de carreira ou, por cerca de R$ 500, adquirir um múltiplo . “Há várias escalas de consumo, todas interessantes”, conclui.
Fonte: Investindo por aí
25/06/25
02/04/25
19/02/25